O Veado e a Formiga - Ricardo Azevedo





O veado construiu uma casa nova no meio da floresta. Depois arrumou tudo, trancou bem a porta e foi procurar comida. Andou, andou, andou o dia inteiro e voltou para casa tarde da noite. Quando ia abrindo a porta escutou um vozeirão lá dentro cantando assim: 

- Quem entrou nunca saiu, quem saiu jamais voltou, quem voltou logo sumiu. Ninguém sabem quem matou.

 O veado ficou assustado. Sem saber o que fazer, saiu correndo pela estrada e encontrou o porco- do-mato. 

- Me ajuda porco-do-mato!

 O porco-do-mato perguntou o que estava acontecendo. O veado explicou: 

- Tem um bicho lá dentro da minha casa. O bicho é dos grandes. O bicho fala grosso. O bicho é perigoso. Tô morrendo de medo. Me ajuda? 

O porco-do-mato quis bancar o valente e estufou o peito.

 - Larga a mão de ser medroso - disse ele - Eu vou lá, eu entro, eu pego, eu prendo, eu arrebento!

 E lá foram os dois. Quando o veado foi abrir a porta para o porco-do-mato entrar, veio um vozeirão cantando assim:

- Quem entrou nunca saiu, quem saiu jamais voltou, quem voltou logo sumiu. Ninguém sabem quem matou. 

Ao ouvir aquela voz, o porco-do-mato estremeceu: 

- Credo! Aí eu não entro não!

 Disse adeus e foi embora. O veado saiu correndo de novo pela estrada e encontrou o tamanduá.

 - Me ajuda tamanduá!

 O tamanduá perguntou o que estava acontecendo. O veado explicou: 

- Tem um bicho lá dentro da minha casa. O bicho é dos grandes. O bicho fala grosso. O bicho é perigoso. Tô morrendo de medo. Me ajuda?

 O tamanduá quis bancar o valente e estufou o peito.

 - Larga a mão de ser medroso - disse ele - Eu vou lá, eu entro, eu pego, eu prendo, eu arrebento! 

E lá foram os dois. Quando o veado foi abrir a porta para o tamanduá entrar, veio um vozeirão cantando assim: 

- Quem entrou nunca saiu, quem saiu jamais voltou, quem voltou logo sumiu. Ninguém sabem quem matou.

 Ao ouvir aquela voa, o tamanduá estremeceu: 

- Credo! Aí eu não entro não! Disse adeus e foi embora. O veado saiu correndo de novo pela estrada e encontrou a onça-pintada.

 - Me ajuda onça-pintada! 

A onça perguntou o que estava acontecendo. O veado explicou:

 - Tem um bicho lá dentro da minha casa. O bicho é dos grandes. O bicho fala grosso. O bicho é perigoso. Tô morrendo de medo. Me ajuda? 

A onça-pintada quis bancar o valente e estufou o peito. 

- Larga a mão de ser medroso - disse ele - Eu vou lá, eu entro, eu pego, eu prendo, eu arrebento! 

E lá foram os dois. Quando o veado foi abrir a porta para a onça-pintada entrar, veio um vozeirão cantando assim:

- Quem entrou nunca saiu, quem saiu jamais voltou, quem voltou logo sumiu. Ninguém sabem quem matou.

 Ao ouvir aquela voa, a onça-pintada estremeceu:

 - Credo! Aí eu não entro não!

 Disse adeus e foi embora. Sozinho no mundo, o veado desanimou e começou a chorar. Foi quando apareceu uma formiguinha. 

- Tá chorando por quê? 

O veado explicou a situação: 

- Você não imagina. Tem um bicho lá dentro da minha casa. O bicho é dos grandes. O bicho fala grosso. O bicho é perigoso. Tô morrendo de medo. Não sei o que fazer. 

A formiga respondeu: 

- Vamos lá dar uma olhada.

 O veado deu uma triste risada: 

- Mas até a onça-pintada teve medo?

 - Medo de que? perguntou a formiguinha. 

O veado não soube responder. E lá foram os dois. Quando o veado foi abrir a porta para a formiga entrar, veio um vozeirão cantando assim:

- Quem entrou nunca saiu, quem saiu jamais voltou, quem voltou logo sumiu. Ninguém sabem quem matou.

 E a formiga então disse: 

- Peraí.

 Chamou outras formigas e entrou com elas por baixo da porta. Descobriram que o dono do vozeirão era um danado de um besourinho desse tamanhinho todo risonho cantando e tocando viola de papo para o ar. 

As formigas caçaram e levaram o besouro para o formigueiro. E o veado agradeceu e voltou, feliz da vida, para sua casa nova.




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